O pensamento teológico se define
a partir de fenômenos experimentados no cotidiano, que possibilitam bases para
diversas interpretações sobre a multiplicidade dos noemas[1] humanos
acerca de Deus, porém um que me chama muito a atenção é o pensamento teológico
na perspectiva de um individuo surdo, que chamarei aqui de pensamento surdo-teológico.
O pensamento surdo-teológico se define a partir da maneira empírica de vivência
que o surdo tem sua leitura cosmológica, vem mediante as imagens ou gestos que
ele lê e interpreta em seu universo silencioso e visual. Seus olhos tem um
papel preponderante para a construção de seus conceitos e percepções sobre seu
universo.
Quero esclarecer que me refiro ao
individuo como surdo, para prefigurar aquele que luta por sua cultura e maneiras
dinâmicas de comunicação, então, não se assemelha em nada ao individuo
deficiente auditivo, mas em parte ao implantado e o oralizado. O surdo tem uma língua gestual-visual de
caráter interpretativo a partir da experiência visual, então me impulsiono a
refletir sobre a capacidade de noesis[2] do
abstrato, como isso se processa pelo surdo?
Suas bases de interpretações do
ser de Deus (ani hú, EU SOU) vem de
suas interpretações dos fenômenos vividos com o seu ser (ani wehu, eu e Ele ), não é difícil um surdo crer em um Deus que
não ouve, ou seja, um Deus surdo, não quero ser mal interpretado, mas não me
refiro a um entendimento ouvintista, pois os conceitos do individuo surdo sobre
surdez não se assemelham aos nossos, nem tomo como base a ontologia, pois suas
tentativas de definir o ser de Deus são altamente limitadas e ficam no campo da
subjetividade.
Para nós uma pessoa surda é aquela que é
desprovida do sentido da audição, e os estigmatizamos como “deficientes” no sentido mais esdrúxulo
da palavra, mas a concepção de Deus pode ser vista como um Deus que vê tudo que
o cerca e se manifesta, que ouve através dos olhos como as pessoas ouvem no seu
contexto de gesto- comunicação, ou seja a fé vem pelo o ouvir (ver na
aplicabilidade surdo-teológica da palavra) e a experimentação do abstrato vem
por meio de suas experiências concretas, pois entendemos que Deus se revela
através de sua criação.
Chego então à conclusão que é a partir
de uma cosmo visão de cunho fenomenológico[3], que o
individuo surdo tem sua fé no Deus altíssimo fazendo uso de ideias teológicas
que caminham pelo campo do modalismo[4]
teológico.
Pr. Adoniran Melo
[1]
essências ou significações
[2]
atos intencionais da consciência
[3]
Fenomenologia (do grego phainesthai - aquilo que se apresenta ou que se mostra
- e logos - explicação, estudo) afirma a importância dos fenômenos da
consciência, os quais devem ser estudados em si mesmos – tudo que podemos saber
do mundo resume-se a esses fenômenos, a esses objetos ideais que existem na
mente, cada um designado por uma palavra que representa a sua essência, sua "significação".
Os objetos da Fenomenologia são dados absolutos apreendidos em intuição pura,
com o propósito de descobrir estruturas essenciais dos atos (noesis) e as
entidades objetivas que correspondem a elas (noema).
[4]
Modalismo é um termo "cunhado no século XIX" (por opositores trinitários ), talvez
seguindo a filosofia de Baruch Spinoza ,
para descrever uma posição, de acordo com seus seguidores, estritamente
monoteísta e presente não só nos cristãos dos primeiros séculos mas na história
da Igreja cristã, onde Deus é definido como um Santo e indivisível, que se
manifesta ao homem de várias maneiras (Hebreus 1:2;. 1 Timóteo 3:16, 2
Coríntios 5:19, John. 14:8-9), e foi manifestado na carne, como Jesus Cristo, a
fim de redimir o homem (1. Timóteo. 3:15-16). Antes da invenção do modalismo
prazo, a doutrina tinha sido conhecido por termos como Monarquianismo , ou a crença
em um único rei ou monarca é Deus Sabellian Sabellianism ou heresia contra a
qual lutou no século IV São Basílio Magno .
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