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terça-feira, 9 de julho de 2013

O surdo e a teologia fenomenológica.


O pensamento teológico se define a partir de fenômenos experimentados no cotidiano, que possibilitam bases para diversas interpretações sobre a multiplicidade dos noemas[1] humanos acerca de Deus, porém um que me chama muito a atenção é o pensamento teológico na perspectiva de um individuo surdo, que chamarei aqui de pensamento surdo-teológico. O pensamento surdo-teológico se define a partir da maneira empírica de vivência que o surdo tem sua leitura cosmológica, vem mediante as imagens ou gestos que ele lê e interpreta em seu universo silencioso e visual. Seus olhos tem um papel preponderante para a construção de seus conceitos e percepções sobre seu universo.
Quero esclarecer que me refiro ao individuo como surdo, para prefigurar aquele que luta por sua cultura e maneiras dinâmicas de comunicação, então, não se assemelha em nada ao individuo deficiente auditivo, mas em parte ao implantado e o oralizado.  O surdo tem uma língua gestual-visual de caráter interpretativo a partir da experiência visual, então me impulsiono a refletir sobre a capacidade de noesis[2] do abstrato, como isso se processa pelo surdo?
Suas bases de interpretações do ser de Deus (ani hú, EU SOU) vem de suas interpretações dos fenômenos vividos com o seu ser (ani wehu, eu e Ele ), não é difícil um surdo crer em um Deus que não ouve, ou seja, um Deus surdo, não quero ser mal interpretado, mas não me refiro a um entendimento ouvintista,  pois os conceitos do individuo surdo sobre surdez não se assemelham aos nossos, nem tomo como base a ontologia, pois suas tentativas de definir o ser de Deus são altamente limitadas e ficam no campo da subjetividade.
 Para nós uma pessoa surda é aquela que é desprovida do sentido da audição, e os estigmatizamos como “deficientes” no sentido mais esdrúxulo da palavra, mas a concepção de Deus pode ser vista como um Deus que vê tudo que o cerca e se manifesta, que ouve através dos olhos como as pessoas ouvem no seu contexto de gesto- comunicação, ou seja a fé vem pelo o ouvir (ver na aplicabilidade surdo-teológica da palavra) e a experimentação do abstrato vem por meio de suas experiências concretas, pois entendemos que Deus se revela através de sua criação. 
Chego então à conclusão que é a partir de uma cosmo visão de cunho fenomenológico[3], que o individuo surdo tem sua fé no Deus altíssimo fazendo uso de ideias teológicas que caminham pelo campo do modalismo[4] teológico.

Pr. Adoniran Melo




[1] essências ou significações
[2] atos intencionais da consciência
[3] Fenomenologia (do grego phainesthai - aquilo que se apresenta ou que se mostra - e logos - explicação, estudo) afirma a importância dos fenômenos da consciência, os quais devem ser estudados em si mesmos – tudo que podemos saber do mundo resume-se a esses fenômenos, a esses objetos ideais que existem na mente, cada um designado por uma palavra que representa a sua essência, sua "significação". Os objetos da Fenomenologia são dados absolutos apreendidos em intuição pura, com o propósito de descobrir estruturas essenciais dos atos (noesis) e as entidades objetivas que correspondem a elas (noema).
[4] Modalismo é um termo "cunhado no século XIX"  (por opositores trinitários ), talvez seguindo a filosofia de Baruch Spinoza ,  para descrever uma posição, de acordo com seus seguidores, estritamente monoteísta e presente não só nos cristãos dos primeiros séculos mas na história da Igreja cristã, onde Deus é definido como um Santo e indivisível, que se manifesta ao homem de várias maneiras (Hebreus 1:2;. 1 Timóteo 3:16, 2 Coríntios 5:19, John. 14:8-9), e foi manifestado na carne, como Jesus Cristo, a fim de redimir o homem (1. Timóteo. 3:15-16). Antes da invenção do modalismo prazo, a doutrina tinha sido conhecido por termos como Monarquianismo , ou a crença em um único rei ou monarca é Deus Sabellian Sabellianism ou heresia contra a qual lutou no século IV São Basílio Magno .

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